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Na imensidão seca do sertão, onde o sol castiga a terra rachada e as chuvas são eventos raros e celebrados, o cacto coroa de frade surge como um verdadeiro símbolo de resistência. Essa planta peculiar, com sua aparência arredondada e um topo espinhoso que lembra o hábito dos monges franciscanos, carrega consigo histórias, lendas e funções práticas que a tornaram quase um personagem do bioma caatinga. Muito além de sua forma exótica, o cacto coroa de frade guarda segredos que fascinam pesquisadores, sertanejos e curiosos.
Conhecido cientificamente como Melocactus bahiensis, o cacto coroa de frade é uma das espécies mais emblemáticas da caatinga. Sua silhueta arredondada, geralmente com cerca de 20 cm de diâmetro, e o “capuz” vermelho-alaranjado que surge no topo, chamado de cefálio, são características marcantes. Esse cefálio, formado por um aglomerado de cerdas e espinhos, dá nome à planta e também abriga suas flores e frutos.
No sertão, ele não é apenas uma planta ornamental ou curiosa: é parte viva da cultura popular. De rezas a simpatias, ando por usos medicinais e práticas de sobrevivência, o coroa de frade revela seu protagonismo no dia a dia de quem vive em terras áridas.
Uma das lendas mais difundidas no interior do Nordeste é que o coroa de frade estaria sempre em oração. Isso por conta de sua forma globosa, com o topo semelhante a uma cabeça encapuzada, lembrando os monges franciscanos curvados em devoção. A planta teria, segundo a tradição oral, sido abençoada por São Francisco e, por isso, teria a missão de guardar as almas perdidas do sertão.
Essa simbologia religiosa é tão forte que algumas famílias do interior evitam arrancar ou danificar o cacto, acreditando que isso traria má sorte ou desequilíbrio espiritual para a casa. Em tempos de seca extrema, há relatos de fiéis que fazem promessas e novenas diante da planta, pedindo chuva ou proteção. Ela virou, assim, uma espécie de “santo vegetal”.
O cacto coroa de frade é mestre na arte de conservar água. Adaptado às condições mais severas da caatinga, ele possui um sistema de armazenamento hídrico que permite sobreviver longos períodos sem chuvas. O interior da planta é rico em um líquido gelatinoso, e isso lhe rendeu um papel crucial durante expedições ou situações de emergência no sertão.
Vaqueiros e viajantes que se perdiam no mato ou avam dias sem encontrar um açude ou fonte, recorriam ao cacto para matar a sede. Bastava cortar com cuidado a parte superior e retirar o gel interno. Apesar de amargo e espesso, esse líquido podia representar a diferença entre a vida e a morte. Isso reforça o status da planta como guardiã do sertão, oferecendo refúgio até mesmo na escassez extrema.
Outra curiosidade fascinante do coroa de frade está em seu fruto. Ele brota discretamente no topo do cefálio, geralmente pequeno e de coloração avermelhada. Conhecido em algumas regiões como “frutinha do frade”, é comestível e tem sabor suave, levemente adocicado. Crianças sertanejas costumam disputá-lo quando o cacto floresce, e ele também é consumido por pequenos animais da fauna local.
Mas não é só o sabor que atrai. A medicina popular atribui propriedades medicinais ao cacto e ao seu fruto. Há quem use infusões de partes da planta para aliviar inflamações, tratar problemas renais e até combater a febre. Embora esses usos careçam de comprovação científica robusta, o conhecimento tradicional é ado de geração em geração como parte essencial da cultura de cura do sertão.
O cacto coroa de frade, com suas formas austeras e belas, é muito mais do que uma planta típica da caatinga: ele é símbolo de resistência, fé e adaptação. Em um cenário onde poucos vegetais conseguem prosperar, ele se impõe com dignidade, beleza e uma utilidade que surpreende.
Ele ensina que mesmo nas paisagens mais inóspitas, a vida encontra caminhos para florescer — seja em forma de oração silenciosa, reserva de água ou fruto saboroso. É essa multiplicidade de significados e funções que faz do cacto coroa de frade uma verdadeira lenda viva do sertão, respeitado por quem conhece o valor de cada gota, cada sombra e cada ensinamento da terra árida.
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